quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Leitura 8 - Espelhos Partidos - um conto sem fadas (trecho).

       

Parte I - Capítulo 4.
 Naquela tarde, fomos a um parque num dos pontos mais altos da cidade, de onde se via uma paisagem linda. Poucas pessoas passavam por ali àquela hora da tarde, num dia de semana. O mundo continuava apressado e cheio de problemas, mas eu e meu amado estávamos ali, sentados na grama, pairando nas nuvens, acima de todos, trocando juras e fazendo planos.
-       - Um dia, nós vamos nos casar – ele disse, de repente.
-       - Julinho! – falei com o coração aos pulos. - A gente mal se conhece e você já está falando assim? Não sabemos nada um do outro!
-       - E precisa saber mais do que o que nós sentimos? 
-       - Mas assim você me assusta.
-       - Minha criança! – ele falou me abraçando. – Assustei você. Claro que não vamos nos casar agora, Flavinha. Mas, um dia, eu tenho certeza, você será a minha mulher.
       - Como pode ter tanta certeza? – perguntei, sentindo um misto de mágoa por ser chamada de criança e de alegria por ele cogitar que eu pudesse ser sua mulher.
-   Eu sinto isso, Flavinha. Aqui dentro – ele disse, pondo a minha mão sobre o seu  peito.
Nosso encontro foi mágico, inesquecível. Julinho era calmo e carinhoso. As horas passaram ligeiras e começava a escurecer quando ele se ofereceu para me levar para casa e embora eu não quisesse voltar, sorri para ele me sentindo a pessoa mais feliz sobre a face da Terra. O vento batia no meu rosto e a paisagem era um misto de rosa e azul, com o sol se pondo ao longe. Parecia uma pintura, um quadro, mas um quadro do qual a minha vida fazia parte. A minha e a dele, de mais ninguém.
                         Definitivamente, eu amava Julinho. Amava sua figura, seus gestos, sua roupa, seu carro, seu cheiro, o cheiro do seu carro, sua voz e tudo o que pudesse estar ligado a ele. Eu era capaz de amar os objetos que ele tocava, pois tudo, perto dele, assumia um poder transformador. Estava namorando o homem mais maravilhoso do mundo e as coisas só não eram mais perfeitas porque eu não podia sair contando isso para todos, aos berros, aos gritos, na maior euforia!
-      Chegamos, neném – ele falou, encostando o carro numa esquina cerca de duas quadras antes de chegarmos ao meu prédio.
-       Neném? – falei, sentida.
-       Não gosta?
-       Não.
-       Como prefere que eu chame você? Flávia, Flavinha?
-       Flavinha, como fez a tarde inteira – pedi.
-       Flavinha e Julinho? – ele falou,  rindo de mim.
-       Só se você quiser... – me apressei em não contrariá-lo, pois se ele me quisesse neném, neném eu seria.
-       Eu quero, Flavinha. É exatamente assim que eu quero.
                           E, dizendo isso, ele me puxou para perto  e me deu um beijo na boca como eu jamais tinha experimentado. Desci do carro vendo estrelas cintilantes e coloridas. Tudo o que eu queria naquele instante era que o tempo parasse para sempre, mas quando me voltei para dar adeus, o carro já tinha sumido.



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