sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Leitura 10 - Acorda que a corda é bamba!

Acorda que a corda é bamba! - um grito de alerta para as drogas
Editora Aquariana / DeLeitura
Trecho: pags.77-79


...
    Lúcio improvisara um cachimbo para fumar a pedra. Tinha visto na revista. Uma latinha, uma tampinha qualquer, um canudo... Tão fácil! Depois, era botar a pedra, acender e pronto. Emoção forte nas pontas dos dedos. Liberdade, euforia. Devia ser melhor do que cheirar. Diziam que era mais forte.
    De repente, assustou-se com o barulho da porta:
- LÚCIO! ABRA ESTA PORTA! - era o pai, enérgico.
- Tô acordando, pai.
- Vem tomar café, Lúcio. Quero que você vá à praia com seus colegas hoje.
- Vai indo, pai. Depois eu vou.
- Abra esta porta. Quero falar com você.
- Me deixa quieto, pai. Eu vou depois. - Lúcio tentou ganhar tempo enquanto escondia o cachimbo debaixo das cobertas.
- Abra esta porta, filho! - o pai repetiu com a voz mais zangada.
   Lúcio abriu e voltou a atirar-se na cama. Preparou-se para o longo sermão.
- O que você está pretendendo com este comportamento arredio, filho? - o pai foi logo dizendo. - O que está pretendendo? Quer que todo mundo fique perguntando o que há com você? Quer chamar atenção?
- Claro que não, pai. Onte eu saí com eles.
- Durante uma hora, se tanto! - o pai lembrou. - Antes queria varar a noite com eles. Agora passa o dia trancado neste quarto. que raio de férias você está querendo ter? Quer me deixar maluco, Lúcio?
   Silêncio. Lúcio encolheu-se na cama e encarou o pai.
- Vá já tomar o seu café e vá para a praia conosco. Estou esperando - o pai ordenou.
- Vai indo na frente, pai. Eu vou logo atrás.
- Acho bom ir mesmo, Lúcio. Acho bom - Artur falou, afastando-se dali.
   Lúcio voltou a trancar a porta. Pretendia mesmo obedecer o pai para evitar encrencas maiores, no entanto não cabia em si de curiosidade. Abriu a gaveta de roupas e tateou em busca da pequena pedra. Pegou de mal jeito e ela caiu no chão. A inquietação inicial virou  desespero. Lúcio deitou-se no chão e rastejou sobre o tapete apalpando cada canto até encontrá-la. Segurou a pedra firme entre os dedos, alcançou o cachimbo por entre as cobertas da cama e o acendeu.
   Fumou a pedra repetindo os mesmos gestos vistos tantas e tantas vezes na televisão, nas revistas, nas ruas...
   Fechou os olhos e esperou que o mistério fosse desvendado, que o milagre acontecesse.
   Fumou a pedra com tragadas intermitentes e a cada inalação sentia o mundo inteiro vibrando intensamente dentro de si.
   O quarto virou paraíso, era o mundo medido em metros quadrados. Tudo estava sob seu único e exclusivo controle. Lúcio era feliz... Era incrível, indescritível, insuperável! ... Por que não te conheci antes, pedrinha? Por que não te busquei primeiro? Por que não me deixa feliz o tempo inteiro? 


(*)O livro foi matéria do programa “Imprensa e Comunicação em Debate”, Rádio Bandeirantes (AM).
A história tem base em fatos verídicos extraídos de cursos e pesquisas realizados  junto ao DENARC e a profissionais da área médica, especialistas em drogadependência, no tratamento e acompanhamento do usuário e de suas famílias. Ao propor duas alternativas de desfecho, o livro leva o leitor a considerar outras consequências possíveis, estabelecendo paralelos entre ficção e realidade.

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