quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Capas 4 - O antes e o agora - Acorda! que a corda é bamba

      Qual o peso de uma capa para o sucesso de um livro? Qual a probabilidade de um leitor ser atraído ou não por um desenho, uma cor, uma ideia visual?
   O artista lê o texto e o interpreta. Ao interpretá-lo, dá a ele sua versão - sua leitura - e define traços e cores, se apossando do livro: enquanto leitor, enquanto artista criativo e criador.
   Mas outras coisas têm aí seu peso: o tema, a época - e paro por aqui porque a lista é extensa, mas são essas as questões que mais explicam o que vou contar.
   A primeira capa do livro Acorda! que a corda é bamba é do talentoso João Baptista da Costa Aguiar, que soube, com sua arte, dar ao livro o impacto que ele certamente provocava. A imagem desfocada de um grito, uma boca aberta simulando certo desespero em avisar algo importante e urgente.
Era o ano de 1998 e a temática das drogas começava a ser discutida um pouco mais abertamente  nas escolas. Portanto, o tema - drogas - naquela época - há mais de 15 anos -, exigia um alerta forte e legítimo, tal qual o João Baptista o concebeu. Assim foi feito e aprovado.
   Porém, parte do público, por uma série de razões também justificáveis, ainda temia que a questão fosse mal interpretada e sugeriu ao editor que a capa fosse "atenuada", sob pena de não poder adotá-lo. Como "atenuar" a interpretação de um capista? Se esta foi sua leitura e sensação, assim devia ser mantido. E assim foi feito. Mas, visando não afugentar leitores, a editora concordou em colocar uma tarja lateral que explicasse o grito: "um grito de alerta para as drogas". Tudo, assim, parecia resolvido.  Sim, é um grito - não de terror, não de horror ou pavor -, mas de alerta...  Nada além disso.
   Ah! querer burlar verdades, iludir o leitor jamais desavisado, não é tática que dê bons frutos. Afinal, quantos leitores não viam o assunto com um temor verdadeiro Mas a medida funcionou, já que o que o livro pretendia era conscientizar, discutir, de fato, alertar. E, com esta primeira capa - que muitos começaram a entender e a aprovar - o livro foi seguindo seu caminho até encontrar seu espaço.
   Anos depois, mais precisamente em 2005, durante a reformulação de catálogo e de uma série de títulos da editora Aquariana/DeLeitura, a artista Niky Venâncio criou uma nova capa. Na sua leitura, o grito dispensa a boca e se comunica através de uma explosão de cor. Um tom vermelho e uma fonte não padronizada "gritam" sobre um amarelo vivo, dando o mesmo necessário aviso: Acorda! que a corda é bamba. No subtítulo, a explicação mantida: sim, estamos falando sobre drogas.
   Pois o alerta continua sendo dado - por todos os meios e formas permitidos ,- o tema continua impactante, sério, importante... sempre um necessário grito!

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