segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ilustração 3 - O Ser / O Ter - Táti Móes

Saindo um pouco da coleção dos recontos, mas mantendo o clima de "contos de fadas", estas ilustrações, da artista Táti Móes, estão no livro O Ser / O Ter, de minha autoria, e traduzem muito bem duas de suas características: no O Ser, a curiosidade das crianças; no O Ter, a displicência do Rei que só pensa nos bens que possui e nos que ainda pretende possuir: neste momento do banho, a nave... Mas isso é segredo que só quem mergulhar na história vai saber.  Porém, um detalhe: nos contos maravilhosos, são as crianças - na sua ingenuidade curiosa e atenta - que costumam desvendar os mistérios. Enquanto os adultos temem o novo, tecem estratégias e artimanhas, as crianças - sem medo do medo que sentem - simplesmente buscam, simplesmente se debruçam, e olham. Ficam aqui as cenas criadas pela Tati para intrigar, convidar à leitura...

Leitura 3 - Livros de imagens para crianças

Eis aí um segmento interessante que nem sempre temos facilidade para indicar ou escolher para os pequenos leitores. Antes disso, é preciso saber um pouco mais sobre o assunto: como se dá este tipo de leitura; quando se trata de literatura, mais precisamente, de literatura infantil... Afinal, o termo literatura pode ser aplicado a um livro sem texto?  Sim, pode. E nada melhor aqui do que beber direto na fonte e  recorrer ao que nos dizem os teóricos: 

..."livro de imagem, álbum de figuras, álbum ilustrado, história muda, história sem palavras, livro de estampas, livro de figuras, livro mudo, texto visual" (CAMARGO, 1998).
Diz Fanny Abramovick: Ao prescindir do verbo, dão (os autores) toda possibilidade para que a criança o use... oralizando estas histórias, colocando um texto verbal, desenvolvendo algumas das situações apenas sugeridas (personagens que aparecem apenas como figuração, como elemento de perturbação do todo ou para salientar um momento ou uma possibilidade insólita), ampliando um detalhe proposto e daí refazendo o todo, de modo novo e pessoal... Criando uma história a partir duma cena colocada, misturando várias, musicalizando alguma relação, sonorizando uma descoberta feita, inventando enfim as possibilidades mil que narrativas apenas visuais (quando inteligentes e bem feitas) permitem e estimulam... Estes livros são sobretudo experiências de olhar... De um olhar múltiplo pois se vê com os olhos do autor e do olhador/ leitor, ambos enxergando o mundo e as personagens de modo diferente, conforme percebem esse mundo." (ABRAMOVICH, 1989).
No Brasil, temos como um dos grandes nomes deste segmento, a autora Eva Furnari que, a princípio, trabalhou apenas com imagens mas foi, aos poucos, introduzindo também a palavra em seus trabalhos.  Sua obra, com mais de 50 títulos e muitos prêmios, é composta de pequenos livros que, com linguagem lúdica construída com lápis de cor, tintas e crayon, discute questões da experiência humana. Sua personagem mais conhecida é a divertida Bruxinha que frequentou durante muitos anos as tirinhas do jornal Folha de São Paulo e está presente em vários de seus livros.
Obras citadas: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Editora Scipione, 1989.
                          CAMARGO, Luiz. A ilustração no livro infantil. Belo Horizonte: Editora Lê, 1995

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ilustração 2 - A magia do amor - George Amaral

Mais duas ilustrações da coleção Lanterna Mágica. Desta vez, o livro é A magia do amor - reconto chinês - e o ilustrador, George Amaral, que nos encantou com as suas cores e seu traço suave e poético, tudo tão apropriado a esta história doce e comovente.


Leitura 2 - História meio ao contrário - Ana Maria Machado

Outro livro que me surpreendeu e me encantou - e encanta sempre - é este: História meio ao contrário, de Ana Maria Machado (Ática, 1978). Subvertendo a ordem natural das coisas, mudando tudo já no início: "...e foram felizes para sempre", a autora nos brinda com um conto inusitado, rompendo com a linearidade da narrativa tradicional dos contos de fada, criando ricas intertextualidades e, ainda, alterando as características habituais de seus personagens. Aqui, a princesa quer ser livre e viajar o mundo; o principe "encantador" se apaixona por uma pastora; o dragão terrível não é uma ameaça (e nem sequer existe); o gigante é bom aliado; o rei... ah este rei tão singular (e ingênuo?)  nos possibilita uma associação de ideias com a realidade, extrapolando o conto, extrapolando a ideia de haver "idade certa" para algumas leituras. Todo leitor se apaixona. Livro que encanta grandes e pequenos, narrativa original e inteligente, enfim, é livro para se ter, ler e reler, presentear, guardar, não esquecer.