quarta-feira, 16 de abril de 2014

Artigo 4 - Literatura e Sociedade

Trecho de análise literária realizada pela AKRÓPOLIS - Revista de Ciências Humanas da UNIPAR
Akrópolis, Umuarama, v.12, nº.3, jul./set., sobre o livro “UM GOSTO DE QUERO MAIS”, nos dá uma ideia do alcance que pode ter a literatura para jovens leitores; do quanto pode ser dito e revelado sobre épocas, hábitos e costumes, ideologias, sociedade; do quanto pode ser revelado sobre o outro e, por contraste ou por identidade, sobre nós mesmos.

Um romance pode nos levar a entender nuances de um tempo, modos de existir, conviver e ser. Não à toa, tão importante a leitura que revela personagens múltiplos, emoções, ideais, reflexões que - não sendo nossas - podem nos colocar em confronto ou em cumplicidade, moldando nossas crenças pessoais, nos fazendo crescer.

Se o texto aborda um tema polêmico ou inovador, pode, muitas vezes, desencadear pequenos debates e conscientizações, a exemplo do que costumam fazer as novelas e seriados da TV, na exposição da vida contemporânea, seus tabus e preconceitos.

O trecho da análise abaixo nos reforça isso: não há melhor modo de aprender sobre a vida do que vivenciando experiências outras que, se não nos atingem diretamente, também não nos deixam totalmente ilesos. Cuidadoso trabalho que revela o quanto pode estar contido nas falas e opiniões de personagens, nas linhas e entrelinhas de um romance. Sim, a leitura transforma.

Para ler o estudo na íntegra, acesse: revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/400/365

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Sobre "Um gosto de quero mais" - AKRÓPOLIS - Revista de Ciências Humanas da UNIPAR
 
" 'Destacam-se três gerações em uma mesma família, cada uma com suas diferenças entre idade x ideologia. Há um questionamento dos valores sociais. É como se a autora procurasse denunciá-los através de uma história. A personagem Cely escreve em seu diário sobre a infância reprimida da avó. “Ela sempre quis estudar mais e o seu pai não deixou.” (p.09) Continua falando da mãe “Viveu com mais liberdade, porém uma liberdade vigiada bem de pertinho.” (p.10) Hoje Cely tem mais oportunidades: “Papai adora investir em educação!” (p.11). As obrigações diárias também mudaram; no tempo da vovó já era difícil: “Já no meu tempo era assim. Trabalhar e trabalhar. Criar filhos, correr com a casa, com a roupa... Não tinha fim.” (p.16) Com a personagem Nancy já é um pouco diferente: “Casas, comida, compras de supermercados, feira... Fora o trabalho das escolas: provas, aulas, apostilas... É demais pra ela.” (p.15). Cely oferece ajuda e a mãe, querendo futuro melhor para a filha, quer que ela estude “- Não, filha, vá estudar que você tem prova hoje.” (p.13) A personagem Cely mostra que pelas conversas que tem com a avó e a mãe já tem uma preocupação, uma ideologia de querer ser mais do que as duas. Percebe que em seu futuro terá algo mais do que elas. “Hoje isso não existe. É preciso ser alguma coisa mais. Temos todas as chances. Educação, informação, mil cursos paralelos...” (p.11)

O crítico Hall(1999,09), ao analisar a identidade moderna, ressalta que  “[estas] transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados”. (grifamos)

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Uma forma contemporânea muita bem articulada pela autora é referente ao título Um Gosto de Quero Mais. Acredita-se que a autora pensou em melhorar o social, despertar o interesse do adolescente pelo título, pois este faz com que a ideia se volte para a sensualidade, já que o enfoque é a gravidez na adolescência mas, no decorrer da narrativa, a avó de Cely  revela que  “um gosto de quero-mais” nada mais é do que anseios e desejos de todos os seres humanos. “A verdade é que nós nunca estamos completamente satisfeitos. Fica, em tudo, aquele gosto de quero-mais.” (p.32) Este pensamento se completa no final com Cely: “Este é o gosto de quero-mais. Um gosto que não se define, é preciso sentir. É conquistar uma meta enquanto já se quer outra. É não fechar os olhos. É sentir profundamente cheiros, cores e emoções. É amar a vida. É viver!” (p.139)

Correlacionando todos os aspectos analisados, observa-se a preocupação da autora em chamar a atenção do leitor no que diz respeito à responsabilidade sobre nossos atos. Na narrativa a família não desampara a filha grávida e o namorado, mas estes são obrigados a assumir o bebê que vem e abrir mão do tipo de vida que tinham: “Ela trabalha como recepcionista de um consultório médico no período da manhã.” “À tarde ela cuida da filha...”. “Beto arrumou um emprego na firma de contabilidade do tio.” “À noite, Darlene vai para a escola com Beto.” (p.132). Tais falas parecem lembrar ao leitor que, também nesta fase, nos tornamos responsáveis por aquilo que fazemos, querendo ou não.

Acreditamos que a Indústria Cultural colabora trazendo formas novas para despertar a curiosidade dos alunos. Problematiza abordando estéticas inovadoras, tornando mais fácil o acesso a estas obras para o público infanto-juvenil. E para o bem ou para o mal este tipo de recurso é bem sucedido.' "