quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ilustração 5 - A princesa sapo - Edu Mendes


Mais duas ilustrações da coleção Lanterna Mágica. O livro é  A princesa sapo, reconto russo. O ilustrador é Edu Mendes, que assim apresentou sua arte aos leitores: ...a inspiração veio de pintores russos, filmes de czares, príncipes e bruxas e a opção foi pelo desenho a lápis e pela aquarela. Diz ele: "Edu não mora em uma izba*, mas gosta de pensar que trabalha com poções mágicas e que suas pinturas podem transformar sapos em príncipes e princesas". E podem! 

*izba: é uma habitação rural e tradicional, russa. Nos contos do folclore russo, a izba fica no meio da floresta e é  a morada da bruxa Baba-Yaga. 

Leitura 5 - Um gosto de quero mais

"Olhos abertos, ouvidos atentos, coração batendo a mil, pressa, uma descoberta atrás da outra... esse é o gosto do quero-mais".
Era assim que a Editora FTD apresentava o livro, no seu texto de quarta capa, na primeira edição de Um gosto de quero mais, no ano de 1994. Fico surpresa quando vejo que o livro, agora, é também um adolescente. Surpresa porque na época em que foi feita a sua primeira versão, já havia a necessidade e a vontade de se abordar o tema gravidez na adolescência nas escolas e na literatura juvenil mas, ao mesmo tempo, havia por parte dos editores e dos educadores um certo receio. "Como os professores reagirão ao livro? - perguntavam os editores. "Como os pais verão a adoção de um livro assim?" - questionavam os professores. Isto porque o tema, assim, tratado abertamente dentro das escolas, era relativamente novo. Abordar a questão era algo novo, não o tema, pois a gravidez precoce sempre existiu. Mas, consideradas todas as preocupações e tomando os cuidados que toda a literatura exige, o livro foi escrito e publicado. A história (provando que o problema é, de fato, antigo) era baseada em fatos vividos dentro da escola pela autora (eu), durante a sua adolescência. Na época, um caso de gravidez dentro da sala de aula era um acontecimento raro e perturbador! Devidamente romanceada, adaptada à época e bem pesquisada - não por acaso fiz Sociologia -, o livro foi publicado e vendeu timidamente nos primeiros anos. A adoção ainda era problemática, alguns poucos professores mais ousados trabalhavam com o livro; alguns pais reagiram. Porém, com o tempo, estando o assunto cada vez mais presente nas ruas, na mídia, nas escolas, este passou a ser meu livro mais vendido.
Em 2001, com atualizações - mais de dados estatísticos que de conteúdo - o livro foi reeditado com diagramação e capa modernas. Ares novos para novos leitores que, com sua leitura e as notícias que me mandam, o revitalizam. "Não fosse o seu livro, teria feito uma besteira!", escreveu uma menina recentemente, sem me dizer o que vinha a ser esta "besteira". Ela podia estar se referindo a transar sem proteção, a transar "antes da hora" (este tempo tão pessoal e indefinido). Mas também poderia estar se referindo a interromper uma gravidez não planejada. Fiquei sem saber. Na porta de uma escola, uma mãe me informou, sorrindo: "Todas nós, mães, também já lemos o seu livro, Sonia. Nossas filhas estão nessa idade aí de querer mais..."
De qualquer modo, a história - que é tão humana que não se faz datada -continua aí, transmitindo a gerações o drama de Darlene. Um drama que é narrado não por ela, mas por sua amiga, Cely, que cresce e amadurece partilhando com seu diário a experiência de Darlene e suas consequências, as reações das pessoas, os comentários da avó, o seu próprio entendimento, seus medos e segredos, suas críticas veladas e sua maior inveja: de também ela descobrir, vivendo, qual é o gosto de quero mais.     

Ilustração 4 - Búkolla, a vaca encantada - Caleb Souza


Continuando a série de ilustrações da coleção Lanterna Mágica, estas duas são do livro Búkolla, a vaca encantada, reconto viking, do ilustrador Caleb Souza que utiliza com muita eficiência  os recursos dos novos programas gráficos e tem conquistado elogios de renomados profissionais da área.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Leitura 4 - Barulhinhos do Silêncio

Todo livro de história tem também a sua história, e muitas vezes me perguntam de onde surgiram ideias, temas, motivação para escrever determinado livro. Como é que tudo começa? Bem,  "Barulhinhos" foi o primeiro deles e, inicialmente, foi publicado na revista infantil da Editora Abril - Alegria e Companhia - que costumava definir sua pauta com base em datas comemorativas, temas específicos. Aliás, escrever para a Alegria e outras tantas revistas  foi muito positivo. Exigiu de mim um jogo de cintura, uma agilidade não apenas para cumprir prazos, mas também para escrever para diferentes públicos. Desta vez, a revista seria  sobre "sons". As matérias falariam sobre músicos, músicas, instrumentos musicais e o texto de ficção - que era um ponto alto da revista - traria o mesmo assunto. Foi texto encomendado. Então, pensando em como abordar tema tão vasto, lembrei de quando era menina e, no escuro do quarto, tarde da noite, às vezes, demorava a pegar no sono preocupada com "barulhos" que vinham da rua, do prédio, dos apartamentos vizinhos.  A partir de minhas lembranças, construí o pequeno Hugo que até hoje encanta meus leitores por ter com eles algo em comum: o medo - ainda que de pequenos ruídos que não se sabe de onde vêm e, por isso, geram certa insegurança.  A Editora Moderna transformou a história em livro e esta foi a minha estréia no setor. Livro, diferente de revista, tem vida longa. Bem mais longa. E sendo assunto não datado, comum a várias gerações, ele permanece vivo. Assim, Barulhinhos continua aí, firme e forte, sendo adotado nas escolas e criando um laço gostoso com pequenos leitores que encontram em Hugo alguém com quem têm algo a partilhar. Se antes eu recebia muitas cartas, agora são muitos os e-mails que me dizem que  o livro continua provocando seus efeitos, ruídos, gostosos barulhinhos. 

Em seu site http://www.moderna.com.br/catalogo/encartes/85-16-03143-8.pdf, a Moderna apresenta  sugestões de atividades, ferramentas para que o professor possa trabalhar com o livro de diferentes formas, fazendo da leitura um ponto de partida. A leitura permite isso. Não se esgota em si mesma, estabelece relações com outras linguagens, outras artes, outros temas e se faz extremamente rica.

RESENHA - A mãe acorda no meio da noite com o pequeno Hugo a seu lado. Ele não consegue dormir, pois o silêncio está fazendo barulho. A mãe explica que é a pia que está pingando. Mesmo assim, Hugo se recusa a ir dormir, pois há outros barulhos que o assustam. A mãe se deita com ele e vai lhe esclarecendo, um a um, os diversos ruídos da noite. Isso tranqüiliza o menino, que dorme sossegado. De manhã bem cedo, entusiasmado para descobrir outros sons, acorda os pais e os três, juntos, ficam apreciando os barulhinhos matinais: os pássaros que anunciam mais um belo dia, a Dona Lalá preparando o café e até o “tum-tum” do coração da amorosa mãe.
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA - Esta delicada história estimula o leitor a prestar atenção nos pequenos ruídos que fazem parte do nosso dia-a-dia, e que, geralmente, nos passam despercebidos. Na verdade, o que a autora diz nas entrelinhas é que pequenas felicidades passam em branco na nossa vida se nelas não prestamos atenção: como é prazeroso dedicar um momento do nosso dia a apreciar o canto dos passarinhos, como é reconfortante ouvir de manhã o barulho da louça e lembrar que alguém prepara o nosso café ou, à noite, saber que um guarda-noturno zela por nós. Além disso, o livro mostra que muitos medos só persistem devido à ignorância; investigar a sua causa, a sua proveniência, pode transformá-los radicalmente.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Educação Artística / Temas transversais: Ética, Saúde /  Público-alvo: Leitor em processo

PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Antes da leitura:
Explore os efeitos de sentido provocados pelo título Barulhinhos do silêncio. Mas, se há silêncio, como pode haver barulho? Veja se associam as horas da noite como as mais silenciosas, permitindo, assim, identificar pequenos ruídos que a agitação do dia camufla.
Durante a leitura:
Peça que os alunos prestem atenção nos ruídos que Hugo ouvia e que verifiquem quais deles também fazem parte do seu dia-a-dia.
Depois da leitura:
1. Retome a narrativa, perguntando: • Qual o problema de Hugo? /• Como tentou resolvê-lo? / • Qual o problema da mãe? /• Como tentou resolvê-lo? / 2. Peça que os alunos  relacionem os ruídos que escutam sempre à noite e de manhã. Peça que tentem registrá-los, quando possível. O registro resultará numa lista de onomatopéias. / 3. Estenda a pesquisa sobre os ruídos. Que barulhos escutam quando estão num sítio? E na praia? Trabalhe com a lista de onomatopéias. Compare a solução de registro encontrada para o mesmo ruído. Ex.: como cada um descreveu o ruído de pássaros? E de um carro passando?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ilustração 3 - O Ser / O Ter - Táti Móes

Saindo um pouco da coleção dos recontos, mas mantendo o clima de "contos de fadas", estas ilustrações, da artista Táti Móes, estão no livro O Ser / O Ter, de minha autoria, e traduzem muito bem duas de suas características: no O Ser, a curiosidade das crianças; no O Ter, a displicência do Rei que só pensa nos bens que possui e nos que ainda pretende possuir: neste momento do banho, a nave... Mas isso é segredo que só quem mergulhar na história vai saber.  Porém, um detalhe: nos contos maravilhosos, são as crianças - na sua ingenuidade curiosa e atenta - que costumam desvendar os mistérios. Enquanto os adultos temem o novo, tecem estratégias e artimanhas, as crianças - sem medo do medo que sentem - simplesmente buscam, simplesmente se debruçam, e olham. Ficam aqui as cenas criadas pela Tati para intrigar, convidar à leitura...

Leitura 3 - Livros de imagens para crianças

Eis aí um segmento interessante que nem sempre temos facilidade para indicar ou escolher para os pequenos leitores. Antes disso, é preciso saber um pouco mais sobre o assunto: como se dá este tipo de leitura; quando se trata de literatura, mais precisamente, de literatura infantil... Afinal, o termo literatura pode ser aplicado a um livro sem texto?  Sim, pode. E nada melhor aqui do que beber direto na fonte e  recorrer ao que nos dizem os teóricos: 

..."livro de imagem, álbum de figuras, álbum ilustrado, história muda, história sem palavras, livro de estampas, livro de figuras, livro mudo, texto visual" (CAMARGO, 1998).
Diz Fanny Abramovick: Ao prescindir do verbo, dão (os autores) toda possibilidade para que a criança o use... oralizando estas histórias, colocando um texto verbal, desenvolvendo algumas das situações apenas sugeridas (personagens que aparecem apenas como figuração, como elemento de perturbação do todo ou para salientar um momento ou uma possibilidade insólita), ampliando um detalhe proposto e daí refazendo o todo, de modo novo e pessoal... Criando uma história a partir duma cena colocada, misturando várias, musicalizando alguma relação, sonorizando uma descoberta feita, inventando enfim as possibilidades mil que narrativas apenas visuais (quando inteligentes e bem feitas) permitem e estimulam... Estes livros são sobretudo experiências de olhar... De um olhar múltiplo pois se vê com os olhos do autor e do olhador/ leitor, ambos enxergando o mundo e as personagens de modo diferente, conforme percebem esse mundo." (ABRAMOVICH, 1989).
No Brasil, temos como um dos grandes nomes deste segmento, a autora Eva Furnari que, a princípio, trabalhou apenas com imagens mas foi, aos poucos, introduzindo também a palavra em seus trabalhos.  Sua obra, com mais de 50 títulos e muitos prêmios, é composta de pequenos livros que, com linguagem lúdica construída com lápis de cor, tintas e crayon, discute questões da experiência humana. Sua personagem mais conhecida é a divertida Bruxinha que frequentou durante muitos anos as tirinhas do jornal Folha de São Paulo e está presente em vários de seus livros.
Obras citadas: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Editora Scipione, 1989.
                          CAMARGO, Luiz. A ilustração no livro infantil. Belo Horizonte: Editora Lê, 1995

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ilustração 2 - A magia do amor - George Amaral

Mais duas ilustrações da coleção Lanterna Mágica. Desta vez, o livro é A magia do amor - reconto chinês - e o ilustrador, George Amaral, que nos encantou com as suas cores e seu traço suave e poético, tudo tão apropriado a esta história doce e comovente.


Leitura 2 - História meio ao contrário - Ana Maria Machado

Outro livro que me surpreendeu e me encantou - e encanta sempre - é este: História meio ao contrário, de Ana Maria Machado (Ática, 1978). Subvertendo a ordem natural das coisas, mudando tudo já no início: "...e foram felizes para sempre", a autora nos brinda com um conto inusitado, rompendo com a linearidade da narrativa tradicional dos contos de fada, criando ricas intertextualidades e, ainda, alterando as características habituais de seus personagens. Aqui, a princesa quer ser livre e viajar o mundo; o principe "encantador" se apaixona por uma pastora; o dragão terrível não é uma ameaça (e nem sequer existe); o gigante é bom aliado; o rei... ah este rei tão singular (e ingênuo?)  nos possibilita uma associação de ideias com a realidade, extrapolando o conto, extrapolando a ideia de haver "idade certa" para algumas leituras. Todo leitor se apaixona. Livro que encanta grandes e pequenos, narrativa original e inteligente, enfim, é livro para se ter, ler e reler, presentear, guardar, não esquecer. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ilustração 1 - O anel mágico - Hugo Araújo

Livros infantis, na grande maioria das vezes, pedem boas ilustrações. E ilustrar, dentre outras significações, é também fazer uma leitura. O artista lê e interpreta o texto e o transforma em imagens que captam o que ali está descrito. Neste sentido, quem ilustra também narra à sua maneira: com imagens, traços, cenas... Texto e ilustração. Tudo é soma, tudo é arte que o leitor toma para si e reinventa numa história que é só sua.

Abaixo, duas ilustrações de Hugo Araújo para meu livro O Anel Mágico - recontos indianos.

Farei outras postagens com trabalhos de ótimos ilustradores.


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Leitura 1 - Tchau - Lygia Bojunga

Escritor escreve e, via de regra, adora ler. Nem sempre por força do ofício, mas quase uma condição natural: o amor aos livros se estende e abraça todas as possibilidades que ele nos oferece. Ler, assim, é coisa de alma. E algumas leituras ficam: nos sentidos, nas lembranças, quase na pele. Uma das leituras que me marcou profundamente foi o livro Tchau, da autora que dispensa maiores apresentações, Lygia Bojunga. Mais especificamente o conto Tchau - que dá título ao livro composto de quatro contos. Sempre achei os textos de Lygia densos, fortes. Suas palavras traduzem com tamanha exatidão o "clima" da cena que descreve, que você consegue sentir aquilo que sente o personagem. Tchau fala sobre separação e perda. Uma mulher decide separar-se do marido e dos filhos para partir com o homem por quem está apaixonada. A filha mais velha, Rebeca, tenta fazer com que ela desista da ideia. O pai, fragilizado, se refugia na bebida. O livro é voltado para o público infantil, mas fala sobre coisas sérias e adultas. Com delicadeza e profundidade encanta leitores de todas as idades. Sobretudo as cenas em que Rebeca observa a mãe pronta para mudar a própria vida e - com este gesto - alterar tudo o que existe à sua volta. Livro poético, denso,  intenso. Na cena final, uma disputa: Rebeca se agarra à mala, tentando evitar a partida. Só lendo, só vendo, sentindo... É livro que fica. Não se esquece.
Ilustração da capa: Edvard Munch, The Lonely One (1986) Munch Museum, Oslo - Casa Lygia Bojunga

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Notícia 3 - Alguns cursos sobre Leitura

E já que mencionei as conversas e trocas ricas que costumo ter com meus leitores - seja a convite de bibliotecas para falar com alunos, seja dando cursos e palestras para educadores -, seguem temas recentes:
Curso: 7 Chaves da leitura competente - Ao decifrar códigos sem compreender o que lê, o leitor realiza uma habilitação mecânica, não dialoga com outros sentidos, estreitando sua visão de mundo. Daí a importância de se conhecer as chaves que possibilitam a leitura competente em todos os níveis, facilitando a aquisição de conhecimentos, a associação de ideias, a relação ensino-aprendizagem, bem como a atuação pessoal e profissional.
Curso: 7 Chaves para ler os contos mágicos - Entendendo a Leitura dos contos de fada como uma ferramenta de compreensão da linguagem simbólica e de aspectos da nossa psique, identificamos seus elementos básicos e refletimos sobre os mitos e sua estreita relação com a vida do homem em qualquer tempo e lugar.
Público alvo: professores do ensino Fundamental e Médio, educadores em geral, estudantes de Pedagogia, universitários, livreiros e demais interessados.
Estes cursos são dados sob encomenda e adaptados conforme as necessidades e o foco da entidade contratante (escolas, bibliotecas, grupos de estudos). Contato e orçamento via site - http://www.soniasalernoforjaz/ -, por este blog ou e-mail.

Notícia 2 - Falando sobre Leitura

Para quem trabalha com livros, é inevitável, - por ser apaixonante -, falar sobre leitura. E se quem está do outro lado é outro amante de livros, tanto melhor, pois o assunto se torna inesgotável. Talvez por conta disso, sou muitas vezes convidada para falar com alunos e professores sobre o tema. Geralmente, com os alunos, falo sobre meus próprios livros e divido com eles alguns segredos. Quando e por que o livro nasceu, qual a motivação maior, com qual personagem mais me identifico, enfim, o papo é interminável, principalmente quando eles já leram a história e se encantaram com ela.
Interessante é que, no início da minha carreira, eu costumava dizer que escrevia para não ter de falar. Minhas palavras estavam lá, registradas, para quem se desse ao trabalho de descobrir uma história, para quem gostasse de ler. Mas isso foi um engano, pois os livros me levam a falar cada vez mais. Parece contraditório, pois imagina-se que um livro fale por si, dispense explicações, mas quando o assunto é discutir literatura na escola, por exemplo, o livro é apenas ponto de partida. Muitas vezes, é a partir de uma história que a curiosidade desperta, como se novas portas ou janelas tivessem sido abertas (e foram), e o leitor acaba se perguntando, afinal, o que ele pensa a respeito daquelas ideias todas que os personagens andaram discutindo. Talvez aí a magia, a sede, o "gosto de quero mais" (título de um de meus livros, muito embora o tema lá seja outro) que trazem os livros. Então, voltando ao que eu dizia, muitas vezes sou chamada para falar com meus leitores. Quando leitores crianças, falar mais sobre a temática do livro, porém, quando o público é adulto, basicamente educadores e amantes da leitura, a discussão vai muito além. Não falamos apenas sobre assuntos teóricos, pedagógicos - o "como" se dá a leitura, por exemplo -, mas sobre o encantamento da palavra sobre a qual pousamos os olhos e, de repente, nos damos conta do caldeirão mágico de sensações que nos provoca o seu entendimento - (eis aí a chave da leitura: o entendimento que, infelizmente, nem todos alcançam). E se a palavra é mágica, o que dirá o livro e a leitura que dele fazemos. Ah, mas este assunto é mesmo inesgotável.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Noticia 1 - Livros mais recentes

No final do ano passado, lancei 09 livros infantis e juvenis, todos com a Editora Aquariana / DeLeitura e com propostas e projetos gráficos bem interessantes. Sete deles fazem parte de uma coleção de recontos. A partir de histórias extraídas da tradição oral, foram feitas adaptações para os dois públicos - infantil e juvenil - de modo que cada "nacionalidade", digamos assim, tenha um par de livros. Com formato e ilustração adequados a cada público, as duas coleções ficaram lindas. Artistas de primeira linha criaram as capas e as ilustrações de cada par de livros. Seus nomes: Hugo Araújo (indianos), George Amaral (chineses), Edu Mendes (russos), Caleb Souza (vikings). Bem, vai ficar mais fácil entender o projeto, visualizando os livros aqui. Mas vale, antes, dar o nome das coleções:  Coleção Lanterna Mágica (infantil) e Coleção Contos Mágicos (juvenil). Vamos a eles.





Você vai notar que falta, aí, o correspondente juvenil dos contos vikings por não ser livro de minha autoria, mas de Fernando Alves. Dele, só participei da coordenação editorial e o livro se chama "O navio fantasma".

Falei em 09 títulos e, assim, faltam dois. Livros que não fazem parte desta coleção, mas de um projeto antigo meu sobre os contos de fadas, depois de anos de estudo sobre o tema. São livros independentes, porém, fruto de uma mesma linha de estudos sobre arquétipos, mitos e símbolos que, muito embora façam parte dos contos mágicos tradicionais, falam sobre a natureza humana em qualquer época. Assim surgiu, primeiramente, Espelhos Partidos - um conto sem fadas, que conta uma história de amor de uma jovem por um homem que tem o dobro da sua idade. A problemática do livro não está na diferença de idades, mas sim, no fato de a protagonista, Flávia, colocar todas as suas expectativas na existência deste amor, ou melhor, deste homem, na sua vida. Flávia, como fazemos sempre que nos encantamos por alguém, passa a amar-se a partir do olhar deste outro, passa a gostar não apenas dele, mas da pessoa que ela se torna diante do olhar apaixonado dele. Perde seu amor próprio, acredita que o seu valor pessoal está fora, está naquilo que ele a faz sentir. Não vou contar a história, mas o fato é que quando este homem parte, Flávia perde o seu próprio eixo, sua referência, e passa a ter atitudes totalmente estranhas. Coisas que ela não faria (e nós não faríamos também) se não estivesse completamente entregue a esta paixão não correspondida. A capa e a diagramação deste livro são da minha filha, Thais. 


Na sequência, nasceu um outro projeto que adorei fazer e pretendo levar adiante com outros temas. Trata-se de um livro com duas capas ("vira-vira") que conta duas histórias independentes, mas que se complementam. Você pode ler uma delas apenas, mas a leitura das duas dará detalhes importantes. Chama-se O Ser / O Ter. Neste livro, queria falar um pouco com as crianças sobre consumismo, sobre a necessidade que às vezes sentimos de possuir tantas coisas, e da pouca importância que damos para aquilo que, de fato, somos ou pretendemos ser. Apesar da importância do tema, quis abordar isso de uma forma mais leve e lúdica para o pequeno leitor, criando dois personagens bem interessantes, o Ser - um extraterrestre - e o Ter - um rei bem ganancioso - que, a partir de diálogos, rimas, metáforas e muita magia, vão dando lá os seus recados. As ilustrações lindas da Tati Móes enriquecem o livro. A cena central "fecha" o livro é comum às duas histórias. Sou suspeitíssima, claro, mas este livro é muito, muito especial.