quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ilustração 7 - Gilberto Marchi

Intertextualidade
Quando falamos em intertextualidade - definindo sucintamente: a correspondência entre dois textos - , lembramos imediatamente do texto escrito. Especialmente na literatura, um texto que remete a outro ou a uma ideia já consagrada e que aparece renovada, revestida, revisitada, enfim. Porém, ideias revisitadas estão presentes o tempo todo em nossa vida cotidiana. Pouco do que vemos ou dizemos é inteiramente original. Melhor dizendo, nada é original já que nossa visão de mundo está sempre apoiada numa premissa anterior. Este é um assunto vasto e empolgante.

Mas se não é original, também não se pode dizer que tudo se copia ... (lembram da frase?). Em se tratando de arte, bebe-se de inúmeras fontes, mas há uma alquimia única, particular, em cada obra,  quando a alma do artista ali se faz presente.

Não há que se falar muito, melhor dar um exemplo. Um belo exemplo...  Levando-se em conta que as imagens falam de um modo mais direto com o outro -  a partir de um olhar relâmpago a comunicação se faz de modo quase irreversível - vamos deixar que este lindo trabalho de Gilberto Marchi nos explique o que é criar, o que é intertexto. Alguém diria não haver aqui algo absolutamente novo?

A imagem fala por si.   

Monanelore - G. Marchi

Fonte: http://gilbertomarchi.blogspot.com/2009/09/ilustracao-monanelore.html

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Leitura 12 - Profissão dona de mim

Profissão dona de mim - FTD Editora

Viver em família é complicado! Ainda mais quando a família entra em crise! E, pior ainda, quando quem está em crise não é um filho, mas a mãe. Como entender? Como ajudar? Como conviver com alguém que se descobre insatisfeita com a vida de dona de casa e quer mudar de qualquer jeito? Entre papos sérios e outros divertidos, a familia inteira se mobiliza para achar a solução! 

trecho - pag.46-52
Conhecendo o diagnóstico.
Um dia a Simone entrou no apartamento comunicando:
- A Teca teve a maior discussão com a mãe dela, hoje. Disse que ela está uma chata.
- E o que é que nós temos a ver com isso? - logo fui cortando o papo dela.
- Nada. Só estou falando pra mamãe saber que não é só ela que anda chata, quer dizer, anda assim com problemas - a Simone logo corrigiu, pois a mamãe estava ouvindo tudo da cozinha. E ainda reforçou:
- Acho bom a mamãe saber que não é só ela que está passando por essa crise dos quarenta.
- Crise dos quarenta? - minha mãe apareceu na sala sem notar que eu e a Silvia estávamos prestes a agarrar o pescoço da Simone. - Quem disse para você que eu estou na crise dos quarenta, Simone?
- A Silvia - ela dedurou, achando que estava dando crédito para a irmã mais velha. - Ela descobriu rapidinho assim que nós contamos para ela sobre os seus chiliques.
- Chiliques! -  mamãe falou, pondo as mãos na cintura. - Ainda mais essa! Eu estou tendo chiliques!
Surpresa, ela sentou no braço do sofá, olhou bem para nós e perguntou:
- Vocês podem me explicar direitinho o que está acontecendo? Se entendi direito, vocês se reuniram para analisar os meus chiliques e a doutora Silvia já deu o seu diagnóstico: crise dos quarenta. Muito bom eu saber disso.
- Sabe o que é, mãe - a Silvia começou a explicar. - Nós ficamos preocupados com você. Você anda meio abatida, triste. Não foi isso, César? - ela perguntou, como quem pede socorro.
- Claro! Foi sem a menor maldade, mãe. só pensamos em ajudar - socorri.
- Pois então saibam de uma coisa - minha mãe falou. - O que eu tenho não é crise dos quarenta coisíssima nenhuma. Não estou me sentindo velha.
- Eu achei que era isso porque todas as pessoas da sua idade começam a se preocupar com uma porção de coisas que antes não perturbava - falou a Silvia. - Todo mundo comenta isso!
...
- Pode ser que mais tarde eu também venha a ter essa crise, não sei - minha mãe continuou. - Talvez também não seja fácil perceber que o físico está murchando, mas por enquanto eu ainda me sinto muito bem. O problema é outro, completamente diferente.
- Então explique, mãe - a Silvia pediu -, ou pelo menos tente, porque eu ainda não saquei direito.
- É difícil explicar - mamãe falou. - É assim como uma coisa que falta. Um buraco vazio. Como se eu não tivesse realizado nada esse tempo todo.
- Mas, mãe! Como não realizou nada? Você já fez tanta coisa! - a Silvia surpreendeu-se.
- Tanta coisa que eu não consigo apalpar - minha mãe retrucou. - Não existe nada concreto que eu possa dizer: "isso aqui foi feito por mim."
- Essa é muito boa! Nós fomos feitos por você - brincou a Simone. E podemos ser apalpados.
- Eu sei, querida - a mamãe esboçou um sorriso. - Esse lado está preenchido, realizado e não me arrependo de nada. Porém ficou um outro lado completamente inútil.
- Você quer dizer um lado profissional? - perguntei.
- Também, filho. Um lado onde você possa ver um resultado concreto. Um lado que te dê satisfação, orgulho. Algo que você tenha conquistado.
- Mas, mãe - falou Silvia -, me diz uma coisa: o que você conquista com o trabalho além de um pouco de dinheiro?
- Muita coisa, filha. O trabalho dá uma sensação de utilidade, de produção... Acho que é isso. Eu não me sinto produtiva.
...
Minha mãe continuou procurando a tal coisa que estava faltando e pareceu mais calma ou, pelo menos, fingiu estar. Uma vez ou outra conversava numa boa e parecia estar lendo bastante também. Ela tinha sacado que teria que se ajudar sozinha. Só mesmo ela poderia chegar à conclusão do que estava faltando. Mamãe só não percebia que, de um jeito ou de outro, esse assunto sempre vinha à baila. Até nas brincadeiras, nas frases irônicas que a gente diz quando está contrariado com alguèm. Sempre era dita alguma coisa como: "É só para isso que eu sirvo, mesmo"; "Ninguém respeita o meu espaço". Esse tal de espaço que todos aconselhavam a mamãe  a procurar e ela não encontrava. Tudo isso estava nos dando um tremendo trabalho.

  

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ilustração 6 - Arthur Rackham (1867-1939)

Sempre vale apreciar o talento de um artista. As imagens (uma pequena amostra) dispensam comentários.

A Fairy



King of golden river



   Alice in Wonderland (by Lewis Carroll)



Fair Helena

Leitura 11 - Meu destino sou eu

Meu destino sou eu
Editora FTD
Trecho - Capítulo X - pags. 35/36

Pai e filho se encontraram na porta de casa.
- Não tem ninguém - Pedro avisou. E eu estou sem a chave.
- Como não tem ninguém? - irritou-se o pai, já colocando a chave na porta. - Onde se enfiou a sua mãe?
- Deve estar na loja. Ela costuma chegar um pouco mais tarde - disse Pedro, consultando o relógio. - Você é que chegou cedo.
- É. Quis fazer uma surpresa e fui surpreendido - reclamou o pai, enquanto entrava e ia direto discar para a loja.
- Clara? Sara? Avisa a sua mãe que eu já estou em casa.
Júlio desligou o telefone, zangado. Nem sombra da satisfação estampada no rosto quando tudo corria conforme seus planos. Algo tinha saído da rota.
Após uns quinze minutos, depois de terem fechado a loja apressadas e descido ladeira abaixo praticamente correndo, Sara, Clara e Edna entraram em casa. Elas bem sabiam o quanto Júlio desaprovava a loja e os transtornos provocados por ela em sua vida.
- Oi, querido. - Edna foi logo beijar o seu rosto.
- Oi - respondeu ele, lacônico e recebendo indiferente também os beijos das filhas.
- Chegou cedo hoje! - comentou Edna, guardando a bolsa.
- E você, tarde - respondeu ele.
- Tarde? Mas este é o meu horário! - ela estranhou.
- Que horário? - disse ele. - Você fecha a loja na hora que quiser.
- Pois então - ela o enfrentou. - Esta é a hora que eu quero.
- Já vão começar... - Sara falou baixinho para Clara.
- Você sabe que destesto não te encontrar em casa quando chego, Edna - Júlio protestou.
- Então me arranje uma bola de cristal pra eu poder adivinhar quando você vai chegar mais cedo. Certo? Eu estava trabalhando, sabia? Tra-ba-lhan-do.
- Sem precisar - emendou Júlio.
- Você implica com o meu trabalho, Júlio. E, pior, só lembra de mim quando eu não estou  em casa. Sou notada pela ausência!
E, dizendo isso, Edna correu para o quarto e se trancou. Júlio pareceu não se importar. Esta cena era reprise de muitas outras. então, voltou-se para o filho.
- Campeão, já vi que não sai janta hoje. Quer ir comigo numa lanchonete?
- Acho que não, pai. Eu estou uma fera hoje.
- É mesmo? Então vamos juntos nos consolar. Você me conta o que aconteceu pelo caminho. Vem, campeão - insistiu Júlio.
Júlio passou o braço pelo ombro do filho e, voltando-se para Clara e Sara, que, mudas, assistiam a eterna discussão, disse:
- Vocês duas façam companhia para a sua mãe.
Logo em seguida, Sara e Clara puderam ouvir os dois conversando do outro lado da porta:
- E elas vão comer o quê, pai?
- Elas se viram na cozinha, campeão... São mulheres...
(cap. XI - pag. 39)
...
Pouco tempo depois, Júlio e Pedro voltaram.
Arrependido, Júlio chamou Edna para o quarto para conversar. Sara já sabia o fim da história. Tinha assistido a essa cena inúmeras vezes. Ele pediria desculpas, assumiria que tinha exagerado na sua reação, no seu ciúme, na sua sensação de posse, na sua autoridade. Edna, ainda aborrecida, o perdoaria, e os dias passariam tranquilos até que algo parecido acontecesse outra vez...
Naquela noite, Sara custou a pegar no sono. Ficou relembrando várias passagens da sua infância. Nelas, invariavelmente, seu pai aparecia como aquele que roubava dela e da irmã toda a possibilidade de voo, toda a sensação de liberdade, de ser capaz.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Leitura 10 - Acorda que a corda é bamba!

Acorda que a corda é bamba! - um grito de alerta para as drogas
Editora Aquariana / DeLeitura
Trecho: pags.77-79


...
    Lúcio improvisara um cachimbo para fumar a pedra. Tinha visto na revista. Uma latinha, uma tampinha qualquer, um canudo... Tão fácil! Depois, era botar a pedra, acender e pronto. Emoção forte nas pontas dos dedos. Liberdade, euforia. Devia ser melhor do que cheirar. Diziam que era mais forte.
    De repente, assustou-se com o barulho da porta:
- LÚCIO! ABRA ESTA PORTA! - era o pai, enérgico.
- Tô acordando, pai.
- Vem tomar café, Lúcio. Quero que você vá à praia com seus colegas hoje.
- Vai indo, pai. Depois eu vou.
- Abra esta porta. Quero falar com você.
- Me deixa quieto, pai. Eu vou depois. - Lúcio tentou ganhar tempo enquanto escondia o cachimbo debaixo das cobertas.
- Abra esta porta, filho! - o pai repetiu com a voz mais zangada.
   Lúcio abriu e voltou a atirar-se na cama. Preparou-se para o longo sermão.
- O que você está pretendendo com este comportamento arredio, filho? - o pai foi logo dizendo. - O que está pretendendo? Quer que todo mundo fique perguntando o que há com você? Quer chamar atenção?
- Claro que não, pai. Onte eu saí com eles.
- Durante uma hora, se tanto! - o pai lembrou. - Antes queria varar a noite com eles. Agora passa o dia trancado neste quarto. que raio de férias você está querendo ter? Quer me deixar maluco, Lúcio?
   Silêncio. Lúcio encolheu-se na cama e encarou o pai.
- Vá já tomar o seu café e vá para a praia conosco. Estou esperando - o pai ordenou.
- Vai indo na frente, pai. Eu vou logo atrás.
- Acho bom ir mesmo, Lúcio. Acho bom - Artur falou, afastando-se dali.
   Lúcio voltou a trancar a porta. Pretendia mesmo obedecer o pai para evitar encrencas maiores, no entanto não cabia em si de curiosidade. Abriu a gaveta de roupas e tateou em busca da pequena pedra. Pegou de mal jeito e ela caiu no chão. A inquietação inicial virou  desespero. Lúcio deitou-se no chão e rastejou sobre o tapete apalpando cada canto até encontrá-la. Segurou a pedra firme entre os dedos, alcançou o cachimbo por entre as cobertas da cama e o acendeu.
   Fumou a pedra repetindo os mesmos gestos vistos tantas e tantas vezes na televisão, nas revistas, nas ruas...
   Fechou os olhos e esperou que o mistério fosse desvendado, que o milagre acontecesse.
   Fumou a pedra com tragadas intermitentes e a cada inalação sentia o mundo inteiro vibrando intensamente dentro de si.
   O quarto virou paraíso, era o mundo medido em metros quadrados. Tudo estava sob seu único e exclusivo controle. Lúcio era feliz... Era incrível, indescritível, insuperável! ... Por que não te conheci antes, pedrinha? Por que não te busquei primeiro? Por que não me deixa feliz o tempo inteiro? 


(*)O livro foi matéria do programa “Imprensa e Comunicação em Debate”, Rádio Bandeirantes (AM).
A história tem base em fatos verídicos extraídos de cursos e pesquisas realizados  junto ao DENARC e a profissionais da área médica, especialistas em drogadependência, no tratamento e acompanhamento do usuário e de suas famílias. Ao propor duas alternativas de desfecho, o livro leva o leitor a considerar outras consequências possíveis, estabelecendo paralelos entre ficção e realidade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Artigo 2 - Um gosto de quero mais



Sonia Maria Dornellas Morelli
Regina Marta Fonseca Gonçalves
Carmem Sidneia Bonfanti da Silva
Simone Léa Marques Barreto

 

ANÁLISE LITERÁRIA

RESUMO:  O objetivo deste trabalho é apresentar alguns recursos inovadores utilizados na Literatura Infanto-Juvenil. Para a realização das idéias, tomamos como base a obra Um Gosto de Quero-Mais de Sonia Salerno Forjaz que tem como tema a gravidez na adolescência. Alguns aspectos foram analisados mediante teorias críticas de vários estudiosos. O ambiente familiar é analisado sob duas vertentes: em uma aparece a família aberta para o diálogo, em outra os pais têm idéias conservadoras. A busca da identidade é bem colocada pela autora. Apresenta também uma análise da interferência da Cultura de Massa, nessa literatura. A estética da obra, bem como o vocabulário típico dos adolescentes e as ilustrações, as mais variadas possíveis são criteriosamente observadas. Como o grande enfoque do trabalho é a Industria Cultural, correlacionando todos os aspectos analisados, acreditamos que este colabora trazendo formas novas para despertar a curiosidade dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Infanto-Juvenil, Industria Cultural, inovações.

Leitura 9 - Um gosto de quero mais

                              Trecho - pag. 25


Darlene revela uma paixão 
- Seus pais são uns amores! – comentou Darlene enquanto se enfiava sob as cobertas da bicama.
- Eu acho – respondi. – Sou suspeita, mas acho que eles são demais.
...
- ... Se eu falasse com meu pai do mesmo jeito que você, levava a maior bronca e até podia ganhar uns tapas. Meu pai é muito autoritário.
...
Imagine então se ele descobre... Não quero nem pensar.
- Descobre o quê? Conta... O quê?
- Você jura não contar pra ninguém?
- Pra que jurar, Darlene? Desembucha!
- Só se você jurar. Eu estou louca pra te contar, mas ninguém mais pode saber. Você jura?
- Ta legal. Juro, vai.
...
- Eu e o Beto... estamos namorando... Você nem desconfiava?
- UAU!!! Namorando de verdade? Nem desconfiava. Bom... vai... francamente, desconfiava, mas pensei que você não tivesse coragem. Conta, conta. Conta mais.
....
- ... Desde quando vocês estão namorando?
- Desde aquele passeio na escola, no planetário. Tem três semanas. No planetário, imagina, foi logo pegando na minha mão.
- E daí?
- E daí que eu vi estrelas...
- Novidade, Darlene! E você queria ver o que no planetário?
...
- Vocês já se beijaram?
- Já. Aí sim que o calafrio fica melhor...
- Como é? Conta! Fala tudo! – enquanto eu perguntava, ia me agitando toda. Acabei pulando pra a bicama da Darlene.
- É bom, uai! Como vou te explicar... é delicioso.
...
- Você já beijou, por acaso, Cely?
- Não. Mas basta o Carlos me encarar daquele jeito, olho no olho, e pronto. Já sinto um troço. Se eu ficar imaginando um beijo, então...
- Pois se ele te beijar de verdade, você vai multiplicar este troço por milhões de outros troços.
- Acho que eu desmaio! – Fiz a cena caindo para trás na cama.
- Eu morro! É incrível!
- Mas, Darlene! Me conta uma coisa. A que horas vocês namoram, se o teu pai não te dá uma folguinha?
...
- Nem brinca, menina. Às vezes eu fico pensando se meu coração dispara por causa do Beto ou por medo do meu pai chegar de repente...
- Ah! Só falta descobrir que seu calafrio é de medo. Morro de rir com seu grande namoro!
- Claro que não é, sua boba! Você tem é inveja porque não namora.
- Inveja, eu? Você é muito mais velha do que eu! Tem mesmo que namorar primeiro.
- Muito mais velha, não, sua despeitada. Só seis meses. Você bem que queria estar no meu lugar.
- Eu??? Você está maluca? Eu ia lá querer beijar aquele cara horrível?
Ele não é horrível. Se você olhar bem, até que ele é engraçadinho...
- Bom. Quem ama o feio...
- E o Carlos por acaso é bonito? Aquele espinhudo?
- Espinhudo? Ele só tem uma espinha, coitado! E ele é lindo com espinha e tudo.
- Na ponta do nariz? Tem coragem de dizer que com aquela espinha na ponta do nariz ele é bonito?
- Tenho. É e pronto. Assunto encerrado. Fica você com o seu magricela e não mexe com meu amado.
- Não falei que você ficou com ciúme? Por que não confessa? Vamos! Ficou toda nervosa...
- Nervosa uma ova! Estou é com sono. Chega de papo.
E, dizendo isso, apaguei a luz..

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Artigo 1 - Papai não é Perfeito - (a inclusão social e o deficiente)

COM A PALAVRA “PAPAI NÃO É PERFEITO”
Este livro tem como tema a deficiência física e o preconceito que a envolve. Pertence à coleção “Recomeço” da editora FTD. Esta coleção foi criada para abordar assuntos como a deficiência física e o preconceito a que essas pessoas são obrigadas a aceitar para poder conviver em nossa sociedade. A autora, Sonia Salerno Forjaz, mostra em “Papai não é perfeito” como as pessoas deficientes enfrentam esses problemas dia a dia em um mundo que não foi feito para servi-las ou para acolhê-las. Forjaz conta a história de um menino que sabe que seu pai era diferente. Ao narrar a deficiência do pai e a maneira como ele encara a vida e as dificuldades, o leitor vai pouco a pouco entendendo melhor o mundo dessas pessoas e aprendendo a respeitá-las.
Na verdade o deficiente quer o direito a igualdade. Não o direito de ser igual, mas a possibilidade de, sendo diferente, ter acesso aos mesmos direitos. Ter respeitada sua diversidade, o conteúdo da sua competência e não a medida da sua eficiência, ter a marca do humano sobressaindo como possibilidade de sua diversidade.
De acordo com a sinopse..., um trabalho escolar levou Lucas a se perguntar se seu pai, portador de deficiência física, hemiplegia, podia ou não ser considerado herói. Se herói fosse a pessoa de porte atlético, fisicamente perfeito, seu pai não se enquadraria nessa categoria... Depois de muitas conversas com a mãe e a irmã, rememorando a história de vida do pai, percebeu que era capaz de conceituar o que é ser herói: pessoa que tem consciência de seus limites, que luta para superá-los e que consegue ser produtivo e feliz, apesar de fisicamente diferente das outras. Seu pai era uma pessoa assim; portanto, um herói.
É esse tipo de conceito sobre deficiência que precisamos, enquanto educadores e cidadãos, passar a nossas crianças e jovens, que a palavra Deficiente, que dá nome a uma pessoa com certas limitações para determinadas tarefas, não pode e nem deve ser empregado como sinônimo de incapaz. Rotular pessoas por aquilo que aparentam ser é pura ignorância... A ignorância é comparável a uma epidemia que dissipa povos inteiros e leva ao caos. Contudo, sua área de atuação é a alma humana e a cura é o conhecimento e a aceitação. Cabe ao professor mudar esse paradigma ao indicar livros como esse “Papai não é perfeito” para incutir a idéia de que o diferente pode ser igual (ou quase), discutir o tema, promover a Inclusão Social e desmistificar esse preconceito contra o aluno, enquanto ser humano, com necessidades educacionais especiais.

Cada pessoa tem um jeito que é só seu e isso deve ser respeitado. Meu jeito é de pensador [...]. Minha mãe é sonhadora [...]. Minha irmã é estudiosa, além, é claro, de todos nós sermos muitas, muitas outras coisas. Papai... bem, este não dá pra dizer assim de repente. Ele é um sujeito especial (FORJAZ, 1998, p.05).

A autora faz toda uma preparação explicando e qualificando cada um dos personagens antes de chegar à descrição do portador de necessidades especiais porque ela sabe que a palavra “deficiente” é impactante, traz à tona certo preconceito, por isso Sonia quer que a primeira impressão seja positiva ao invés de seu oposto. Isso tudo tem o intuito de não desqualificá-lo ou torná-lo digno de pena, mas mostrar que por traz da deficiência há um ser humano que se esforça mais ainda por suprir a sua limitação.
“O Bruno vive falando mil maravilhas sobre o pai dele [...] o mais elegante, o mais bonito, o mais rico... [...] mas daí a ser herói, acho que vai uma grande distância” (FORJAZ, 1998, p. 07).
Neste caso, também é a aparência que conta. Porém como diz o ditado popular “quem vê cara não vê coração” não é a aparência e posição social que fazem o caráter de uma pessoa, suas qualidades. Toda pessoa tem defeitos, mas são as qualidades que amenizam estes defeitos. Só depende da visão do outro com relação a você.
Ser herói para alguém que goza de plena saúde, condição financeira estável, considerável círculo de amizade é fácil, aliás, estas não são condições para tornar alguém herói. Na definição de Bueno “Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras, pelo seu valor ou magnanimidade” (1996, p. 340) a segunda definição se encaixa perfeitamente em nosso personagem, todavia Lucas não conseguia enxergar o herói que havia em seu pai “Precisava mesmo aparecer um trabalho de escola para me fazer enxergar o meu próprio pai!” (p. 08)...   (grifamos)

Leia  mais
Fonte:  
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A DEFICIÊNCIA FÍSICA NA OBRA “PAPAI NÃO É PERFEITO”
Edilaine Vagula, Tereza Cristina Ribeiro Magron Bataglia

Leitura 8 - Espelhos Partidos - um conto sem fadas (trecho).

       

Parte I - Capítulo 4.
 Naquela tarde, fomos a um parque num dos pontos mais altos da cidade, de onde se via uma paisagem linda. Poucas pessoas passavam por ali àquela hora da tarde, num dia de semana. O mundo continuava apressado e cheio de problemas, mas eu e meu amado estávamos ali, sentados na grama, pairando nas nuvens, acima de todos, trocando juras e fazendo planos.
-       - Um dia, nós vamos nos casar – ele disse, de repente.
-       - Julinho! – falei com o coração aos pulos. - A gente mal se conhece e você já está falando assim? Não sabemos nada um do outro!
-       - E precisa saber mais do que o que nós sentimos? 
-       - Mas assim você me assusta.
-       - Minha criança! – ele falou me abraçando. – Assustei você. Claro que não vamos nos casar agora, Flavinha. Mas, um dia, eu tenho certeza, você será a minha mulher.
       - Como pode ter tanta certeza? – perguntei, sentindo um misto de mágoa por ser chamada de criança e de alegria por ele cogitar que eu pudesse ser sua mulher.
-   Eu sinto isso, Flavinha. Aqui dentro – ele disse, pondo a minha mão sobre o seu  peito.
Nosso encontro foi mágico, inesquecível. Julinho era calmo e carinhoso. As horas passaram ligeiras e começava a escurecer quando ele se ofereceu para me levar para casa e embora eu não quisesse voltar, sorri para ele me sentindo a pessoa mais feliz sobre a face da Terra. O vento batia no meu rosto e a paisagem era um misto de rosa e azul, com o sol se pondo ao longe. Parecia uma pintura, um quadro, mas um quadro do qual a minha vida fazia parte. A minha e a dele, de mais ninguém.
                         Definitivamente, eu amava Julinho. Amava sua figura, seus gestos, sua roupa, seu carro, seu cheiro, o cheiro do seu carro, sua voz e tudo o que pudesse estar ligado a ele. Eu era capaz de amar os objetos que ele tocava, pois tudo, perto dele, assumia um poder transformador. Estava namorando o homem mais maravilhoso do mundo e as coisas só não eram mais perfeitas porque eu não podia sair contando isso para todos, aos berros, aos gritos, na maior euforia!
-      Chegamos, neném – ele falou, encostando o carro numa esquina cerca de duas quadras antes de chegarmos ao meu prédio.
-       Neném? – falei, sentida.
-       Não gosta?
-       Não.
-       Como prefere que eu chame você? Flávia, Flavinha?
-       Flavinha, como fez a tarde inteira – pedi.
-       Flavinha e Julinho? – ele falou,  rindo de mim.
-       Só se você quiser... – me apressei em não contrariá-lo, pois se ele me quisesse neném, neném eu seria.
-       Eu quero, Flavinha. É exatamente assim que eu quero.
                           E, dizendo isso, ele me puxou para perto  e me deu um beijo na boca como eu jamais tinha experimentado. Desci do carro vendo estrelas cintilantes e coloridas. Tudo o que eu queria naquele instante era que o tempo parasse para sempre, mas quando me voltei para dar adeus, o carro já tinha sumido.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Notícia 4 - Vice-Versa Março/2011

O Vice-Versa de Março apresenta as entrevistas dos escritores Sérsi Bardari e Sonia Salerno Forjaz, da regional SP da AEILIJ. 

 
O Vice-Versa é um bate-papo entre dois escritores, ilustradores e ou profissionais da área de literatura, com perguntas e respostas. Criado pela autora Regina Sormani,foi lançado no blog da AEILIJ Paulista em agosto de 2008. Até hoje, são 70 mini-entrevistas. Leia mais.
http://aeilijpaulista.blogspot.com/search?updated-max=2011-03-01T09%3A57%3A00-08%3A00&max-results=7

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Artigo 1 - O mercado dos livros infantis e juvenis

        Mercado anuncia bom aumento de vendas, mas estamos também lendo mais?

       O segmento de literatura infanto-juvenil está surpreendendo o mercado brasileiro de    livros.      Apontado pelas livrarias do país como o setor que mais cresceu em vendas em 2010, ele ainda não possui um ranking oficial de livros mais vendidos. Mas, os números mostram que crianças e adolescentes estão lendo cada vez mais títulos que vão além do material didático. De acordo com a Associação Nacional de Livrarias (ANL), a tendência desse crescimento é só aumentar. Para se ter ideia, em termos de produção, entre 2008 e 2009, o número de livros infantis lançados no Brasil ultrapassou 26 milhões de unidades.
Os dados do Levantamento Anual do Segmento de Livrarias, realizado pela ANL, apontam que entre as cinco áreas que mais cresceram em 2010 a infanto-juvenil estava no topo. Logo atrás, vieram os livros de Auto-Ajuda/Esotéricos, Acadêmicos e Literatura Geral – dividida em Ficção e Não Ficção. De acordo com Augusto Mariotto Kater, vice-presidente da ANL, as livrarias apontaram o campeão da lista como um dos melhores propulsores do bom desempenho das lojas nos últimos anos... De acordo com Kater, há duas explicações diretas para a expansão do segmento. “O cenário econômico favorável no Brasil, que gerou um boom no consumo em geral, e o investimento das livrarias, com o aumento da ofertas de livros infantis e o advento das importações (redução do custo de produção)”, explica. Ele diz que as opções mais econômicas vindas do exterior, como China e Índia, impulsionaram a redução dos preços, gerando mais oportunidade de compra. O Governo é apontado como outro importante responsável pelo aumento das vendas no setor. ...  "... Livros didáticos e paradidáticos (os livros de literatura infantil e juvenil) são comprados com frequência nos âmbitos federal, estadual e municipal”.
Segundo o vice-presidente da ANL, as pessoas costumam gastar mais com os seus filhos do que consigo mesmas. Diante deste cenário, as livrarias começam a incentivar nas crianças o gosto pelo livro criando espaços dedicados aos pequenos consumidores, onde oferecem contação de histórias, debates com autores e oficinas com ilustradores. Elas também costumam promover feiras de livros e eventos literários em colégios, estabelecimentos públicos ou comerciais. E, segundo Augusto, o objetivo é ampliar essas ações. “Incentivar a leitura e, consequentemente, contribuir com o aumento das vendas dos livros infanto-juvenis”.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Leitura 7 - Mil e Uma Noites - Um clássico e suas adaptações






Para um primeiro contato dos jovens leitores com os contos do livro das Mil e Uma Noites,  os excelentes filmes da Disney bem como algumas boas adaptações produzidas por diferentes estúdios de animação são porta de entrada ou complemento interessante.  Cenários, roupas e ricos detalhes inserem os textos nos seus devidos contextos, ampliando repertórios que, bem trabalhados, despertam a curiosidade e incentivam outras leituras. Ainda que se queira privilegiar a palavra, o texto, o livro e a leitura é possível (muitas vezes, aconselhável e outras tantas, necessário) transitar por outras vias da arte, agregando valores e conhecimentos.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Leitura 6 - O livro das Mil e Uma Noites

A História por trás das histórias 
 
Grande parte das histórias infantis conhecidas no Ocidente surgiram na Europa, entre os séculos V e XV e se difundiram pelo mundo a partir da contação de histórias entre camponeses, fazendo parte do que hoje chamamos "tradição oral". Assim, cruzaram fronteiras e sofreram alterações conforme a cultura em que se inseriam. Alguns destes contos - sabe-se - chegaram na Europa no século XVII, graças a Charles Perrault, autor das primeiras adaptações. No século XIX, os irmãos alemães,  Grimm (Jacob e Wilhelm), também fizeram versões destas narrativas e as publicaram sob o título de Histórias das crianças e do lar

Por tão antiga quanto dispersa, porém, a origem do Livro das Mil e Uma Noites - também fruto da oralidade -,  parece mais enigmática. Trata-se de uma coleção de contos árabes estruturados como histórias em cadeia que instiga a curiosidade do ouvinte para a sua continuação. O uso do número 1001 - e não de um número redondo - sugere a existência de outras histórias e dá à coletânea um carater de obra inacabada e infinita.  A obra, tal como a conhecemos, surgiu no Ocidente  entre os séculos XIII e XIV, mas só foram divulgadas em 1702, pela versão de um original sírio feita pelo francês Antoine Galland.

Seja um ou sejam múltiplos autores anônimos, as histórias foram reunidas durante séculos até formarem o que hoje é um clássico da literatura. Segundo estudos, de origem indiana, as histórias teriam viajado até a Pérsia (atual Irã) com os mercadores, onde teria surgido sua primeira compilação, intitulada "Os Mil Contos", já trazendo seus personagens mais importantes: o sultão Chahriar (Shariar) e sua esposa Cheherazade (Sherazade). Por volta do século VIII, os povos árabes acrescentaram ao texto valores islâmicos. Nos séculos seguintes, a  obra apareceu em diferentes manuscritos, cada um com sua própria variação.  Acredita-se que os contos mais antigos sejam do Egito, do séc. XII, mais tarde agregados a contos hindus, persas, siríacos e judaicos, com elementos de suas respectivas tradições culturais.




Para teóricos, a tradução mais respeitada é a do explorador inglês Sir Richard Burton,cujos 16 volumes foram lançados entre 1885 e 1888. Da coletânea, os contos mais conhecidos são: Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e As Viagens de Simbá,  dentre outros, alguns deles adaptados para o cinema em versões animadas dos estúdios Disney, e cujos originais não se sabe exatamente em que época foram introduzidos ao conjunto. 


 As mil e uma noites (Alf Lailah Oua Lailah) 

A história -
O rei persa Shariar mandou matar a mulher por sua infidelidade. Feito isso, decidiu que passaria cada noite com uma esposa diferente, virgem, que seria degolada na manhã seguinte. Durante anos, as moças eram mortas e, assim, já não havia mais virgens em seu reino. Sherazade, a filha do vizir, ofereceu-se como noiva, dizendo saber como fugir de tão triste destino. Após seu casamento, a jovem é possuída pelo rei, mas passa a lhe contar uma linda história que é interrompida num momento de suspense - e antes que raie o dia -, deixando o rei curioso para ouvir a continuação na noite seguinte. Sherazade, com este artifício repetido por mil e uma noites encanta o monarca e é poupada da morte. Consegue sobreviver graças à  palavra e à curiosidade do rei. Ao fim desse tempo, ela já havia tido três filhos e, na milésima primeira noite, pede ao rei que a poupe, por amor às crianças. O rei atende o seu pedido e a perdoa. Surge assim a metáfora de Sherazade: a liberdade se conquista com o exercício da criatividade.