quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Artigo 1 - Papai não é Perfeito - (a inclusão social e o deficiente)

COM A PALAVRA “PAPAI NÃO É PERFEITO”
Este livro tem como tema a deficiência física e o preconceito que a envolve. Pertence à coleção “Recomeço” da editora FTD. Esta coleção foi criada para abordar assuntos como a deficiência física e o preconceito a que essas pessoas são obrigadas a aceitar para poder conviver em nossa sociedade. A autora, Sonia Salerno Forjaz, mostra em “Papai não é perfeito” como as pessoas deficientes enfrentam esses problemas dia a dia em um mundo que não foi feito para servi-las ou para acolhê-las. Forjaz conta a história de um menino que sabe que seu pai era diferente. Ao narrar a deficiência do pai e a maneira como ele encara a vida e as dificuldades, o leitor vai pouco a pouco entendendo melhor o mundo dessas pessoas e aprendendo a respeitá-las.
Na verdade o deficiente quer o direito a igualdade. Não o direito de ser igual, mas a possibilidade de, sendo diferente, ter acesso aos mesmos direitos. Ter respeitada sua diversidade, o conteúdo da sua competência e não a medida da sua eficiência, ter a marca do humano sobressaindo como possibilidade de sua diversidade.
De acordo com a sinopse..., um trabalho escolar levou Lucas a se perguntar se seu pai, portador de deficiência física, hemiplegia, podia ou não ser considerado herói. Se herói fosse a pessoa de porte atlético, fisicamente perfeito, seu pai não se enquadraria nessa categoria... Depois de muitas conversas com a mãe e a irmã, rememorando a história de vida do pai, percebeu que era capaz de conceituar o que é ser herói: pessoa que tem consciência de seus limites, que luta para superá-los e que consegue ser produtivo e feliz, apesar de fisicamente diferente das outras. Seu pai era uma pessoa assim; portanto, um herói.
É esse tipo de conceito sobre deficiência que precisamos, enquanto educadores e cidadãos, passar a nossas crianças e jovens, que a palavra Deficiente, que dá nome a uma pessoa com certas limitações para determinadas tarefas, não pode e nem deve ser empregado como sinônimo de incapaz. Rotular pessoas por aquilo que aparentam ser é pura ignorância... A ignorância é comparável a uma epidemia que dissipa povos inteiros e leva ao caos. Contudo, sua área de atuação é a alma humana e a cura é o conhecimento e a aceitação. Cabe ao professor mudar esse paradigma ao indicar livros como esse “Papai não é perfeito” para incutir a idéia de que o diferente pode ser igual (ou quase), discutir o tema, promover a Inclusão Social e desmistificar esse preconceito contra o aluno, enquanto ser humano, com necessidades educacionais especiais.

Cada pessoa tem um jeito que é só seu e isso deve ser respeitado. Meu jeito é de pensador [...]. Minha mãe é sonhadora [...]. Minha irmã é estudiosa, além, é claro, de todos nós sermos muitas, muitas outras coisas. Papai... bem, este não dá pra dizer assim de repente. Ele é um sujeito especial (FORJAZ, 1998, p.05).

A autora faz toda uma preparação explicando e qualificando cada um dos personagens antes de chegar à descrição do portador de necessidades especiais porque ela sabe que a palavra “deficiente” é impactante, traz à tona certo preconceito, por isso Sonia quer que a primeira impressão seja positiva ao invés de seu oposto. Isso tudo tem o intuito de não desqualificá-lo ou torná-lo digno de pena, mas mostrar que por traz da deficiência há um ser humano que se esforça mais ainda por suprir a sua limitação.
“O Bruno vive falando mil maravilhas sobre o pai dele [...] o mais elegante, o mais bonito, o mais rico... [...] mas daí a ser herói, acho que vai uma grande distância” (FORJAZ, 1998, p. 07).
Neste caso, também é a aparência que conta. Porém como diz o ditado popular “quem vê cara não vê coração” não é a aparência e posição social que fazem o caráter de uma pessoa, suas qualidades. Toda pessoa tem defeitos, mas são as qualidades que amenizam estes defeitos. Só depende da visão do outro com relação a você.
Ser herói para alguém que goza de plena saúde, condição financeira estável, considerável círculo de amizade é fácil, aliás, estas não são condições para tornar alguém herói. Na definição de Bueno “Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras, pelo seu valor ou magnanimidade” (1996, p. 340) a segunda definição se encaixa perfeitamente em nosso personagem, todavia Lucas não conseguia enxergar o herói que havia em seu pai “Precisava mesmo aparecer um trabalho de escola para me fazer enxergar o meu próprio pai!” (p. 08)...   (grifamos)

Leia  mais
Fonte:  
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A DEFICIÊNCIA FÍSICA NA OBRA “PAPAI NÃO É PERFEITO”
Edilaine Vagula, Tereza Cristina Ribeiro Magron Bataglia

Leitura 8 - Espelhos Partidos - um conto sem fadas (trecho).

       

Parte I - Capítulo 4.
 Naquela tarde, fomos a um parque num dos pontos mais altos da cidade, de onde se via uma paisagem linda. Poucas pessoas passavam por ali àquela hora da tarde, num dia de semana. O mundo continuava apressado e cheio de problemas, mas eu e meu amado estávamos ali, sentados na grama, pairando nas nuvens, acima de todos, trocando juras e fazendo planos.
-       - Um dia, nós vamos nos casar – ele disse, de repente.
-       - Julinho! – falei com o coração aos pulos. - A gente mal se conhece e você já está falando assim? Não sabemos nada um do outro!
-       - E precisa saber mais do que o que nós sentimos? 
-       - Mas assim você me assusta.
-       - Minha criança! – ele falou me abraçando. – Assustei você. Claro que não vamos nos casar agora, Flavinha. Mas, um dia, eu tenho certeza, você será a minha mulher.
       - Como pode ter tanta certeza? – perguntei, sentindo um misto de mágoa por ser chamada de criança e de alegria por ele cogitar que eu pudesse ser sua mulher.
-   Eu sinto isso, Flavinha. Aqui dentro – ele disse, pondo a minha mão sobre o seu  peito.
Nosso encontro foi mágico, inesquecível. Julinho era calmo e carinhoso. As horas passaram ligeiras e começava a escurecer quando ele se ofereceu para me levar para casa e embora eu não quisesse voltar, sorri para ele me sentindo a pessoa mais feliz sobre a face da Terra. O vento batia no meu rosto e a paisagem era um misto de rosa e azul, com o sol se pondo ao longe. Parecia uma pintura, um quadro, mas um quadro do qual a minha vida fazia parte. A minha e a dele, de mais ninguém.
                         Definitivamente, eu amava Julinho. Amava sua figura, seus gestos, sua roupa, seu carro, seu cheiro, o cheiro do seu carro, sua voz e tudo o que pudesse estar ligado a ele. Eu era capaz de amar os objetos que ele tocava, pois tudo, perto dele, assumia um poder transformador. Estava namorando o homem mais maravilhoso do mundo e as coisas só não eram mais perfeitas porque eu não podia sair contando isso para todos, aos berros, aos gritos, na maior euforia!
-      Chegamos, neném – ele falou, encostando o carro numa esquina cerca de duas quadras antes de chegarmos ao meu prédio.
-       Neném? – falei, sentida.
-       Não gosta?
-       Não.
-       Como prefere que eu chame você? Flávia, Flavinha?
-       Flavinha, como fez a tarde inteira – pedi.
-       Flavinha e Julinho? – ele falou,  rindo de mim.
-       Só se você quiser... – me apressei em não contrariá-lo, pois se ele me quisesse neném, neném eu seria.
-       Eu quero, Flavinha. É exatamente assim que eu quero.
                           E, dizendo isso, ele me puxou para perto  e me deu um beijo na boca como eu jamais tinha experimentado. Desci do carro vendo estrelas cintilantes e coloridas. Tudo o que eu queria naquele instante era que o tempo parasse para sempre, mas quando me voltei para dar adeus, o carro já tinha sumido.