segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ilustração 1 - O anel mágico - Hugo Araújo

Livros infantis, na grande maioria das vezes, pedem boas ilustrações. E ilustrar, dentre outras significações, é também fazer uma leitura. O artista lê e interpreta o texto e o transforma em imagens que captam o que ali está descrito. Neste sentido, quem ilustra também narra à sua maneira: com imagens, traços, cenas... Texto e ilustração. Tudo é soma, tudo é arte que o leitor toma para si e reinventa numa história que é só sua.

Abaixo, duas ilustrações de Hugo Araújo para meu livro O Anel Mágico - recontos indianos.

Farei outras postagens com trabalhos de ótimos ilustradores.


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Leitura 1 - Tchau - Lygia Bojunga

Escritor escreve e, via de regra, adora ler. Nem sempre por força do ofício, mas quase uma condição natural: o amor aos livros se estende e abraça todas as possibilidades que ele nos oferece. Ler, assim, é coisa de alma. E algumas leituras ficam: nos sentidos, nas lembranças, quase na pele. Uma das leituras que me marcou profundamente foi o livro Tchau, da autora que dispensa maiores apresentações, Lygia Bojunga. Mais especificamente o conto Tchau - que dá título ao livro composto de quatro contos. Sempre achei os textos de Lygia densos, fortes. Suas palavras traduzem com tamanha exatidão o "clima" da cena que descreve, que você consegue sentir aquilo que sente o personagem. Tchau fala sobre separação e perda. Uma mulher decide separar-se do marido e dos filhos para partir com o homem por quem está apaixonada. A filha mais velha, Rebeca, tenta fazer com que ela desista da ideia. O pai, fragilizado, se refugia na bebida. O livro é voltado para o público infantil, mas fala sobre coisas sérias e adultas. Com delicadeza e profundidade encanta leitores de todas as idades. Sobretudo as cenas em que Rebeca observa a mãe pronta para mudar a própria vida e - com este gesto - alterar tudo o que existe à sua volta. Livro poético, denso,  intenso. Na cena final, uma disputa: Rebeca se agarra à mala, tentando evitar a partida. Só lendo, só vendo, sentindo... É livro que fica. Não se esquece.
Ilustração da capa: Edvard Munch, The Lonely One (1986) Munch Museum, Oslo - Casa Lygia Bojunga

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Notícia 3 - Alguns cursos sobre Leitura

E já que mencionei as conversas e trocas ricas que costumo ter com meus leitores - seja a convite de bibliotecas para falar com alunos, seja dando cursos e palestras para educadores -, seguem temas recentes:
Curso: 7 Chaves da leitura competente - Ao decifrar códigos sem compreender o que lê, o leitor realiza uma habilitação mecânica, não dialoga com outros sentidos, estreitando sua visão de mundo. Daí a importância de se conhecer as chaves que possibilitam a leitura competente em todos os níveis, facilitando a aquisição de conhecimentos, a associação de ideias, a relação ensino-aprendizagem, bem como a atuação pessoal e profissional.
Curso: 7 Chaves para ler os contos mágicos - Entendendo a Leitura dos contos de fada como uma ferramenta de compreensão da linguagem simbólica e de aspectos da nossa psique, identificamos seus elementos básicos e refletimos sobre os mitos e sua estreita relação com a vida do homem em qualquer tempo e lugar.
Público alvo: professores do ensino Fundamental e Médio, educadores em geral, estudantes de Pedagogia, universitários, livreiros e demais interessados.
Estes cursos são dados sob encomenda e adaptados conforme as necessidades e o foco da entidade contratante (escolas, bibliotecas, grupos de estudos). Contato e orçamento via site - http://www.soniasalernoforjaz/ -, por este blog ou e-mail.

Notícia 2 - Falando sobre Leitura

Para quem trabalha com livros, é inevitável, - por ser apaixonante -, falar sobre leitura. E se quem está do outro lado é outro amante de livros, tanto melhor, pois o assunto se torna inesgotável. Talvez por conta disso, sou muitas vezes convidada para falar com alunos e professores sobre o tema. Geralmente, com os alunos, falo sobre meus próprios livros e divido com eles alguns segredos. Quando e por que o livro nasceu, qual a motivação maior, com qual personagem mais me identifico, enfim, o papo é interminável, principalmente quando eles já leram a história e se encantaram com ela.
Interessante é que, no início da minha carreira, eu costumava dizer que escrevia para não ter de falar. Minhas palavras estavam lá, registradas, para quem se desse ao trabalho de descobrir uma história, para quem gostasse de ler. Mas isso foi um engano, pois os livros me levam a falar cada vez mais. Parece contraditório, pois imagina-se que um livro fale por si, dispense explicações, mas quando o assunto é discutir literatura na escola, por exemplo, o livro é apenas ponto de partida. Muitas vezes, é a partir de uma história que a curiosidade desperta, como se novas portas ou janelas tivessem sido abertas (e foram), e o leitor acaba se perguntando, afinal, o que ele pensa a respeito daquelas ideias todas que os personagens andaram discutindo. Talvez aí a magia, a sede, o "gosto de quero mais" (título de um de meus livros, muito embora o tema lá seja outro) que trazem os livros. Então, voltando ao que eu dizia, muitas vezes sou chamada para falar com meus leitores. Quando leitores crianças, falar mais sobre a temática do livro, porém, quando o público é adulto, basicamente educadores e amantes da leitura, a discussão vai muito além. Não falamos apenas sobre assuntos teóricos, pedagógicos - o "como" se dá a leitura, por exemplo -, mas sobre o encantamento da palavra sobre a qual pousamos os olhos e, de repente, nos damos conta do caldeirão mágico de sensações que nos provoca o seu entendimento - (eis aí a chave da leitura: o entendimento que, infelizmente, nem todos alcançam). E se a palavra é mágica, o que dirá o livro e a leitura que dele fazemos. Ah, mas este assunto é mesmo inesgotável.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Noticia 1 - Livros mais recentes

No final do ano passado, lancei 09 livros infantis e juvenis, todos com a Editora Aquariana / DeLeitura e com propostas e projetos gráficos bem interessantes. Sete deles fazem parte de uma coleção de recontos. A partir de histórias extraídas da tradição oral, foram feitas adaptações para os dois públicos - infantil e juvenil - de modo que cada "nacionalidade", digamos assim, tenha um par de livros. Com formato e ilustração adequados a cada público, as duas coleções ficaram lindas. Artistas de primeira linha criaram as capas e as ilustrações de cada par de livros. Seus nomes: Hugo Araújo (indianos), George Amaral (chineses), Edu Mendes (russos), Caleb Souza (vikings). Bem, vai ficar mais fácil entender o projeto, visualizando os livros aqui. Mas vale, antes, dar o nome das coleções:  Coleção Lanterna Mágica (infantil) e Coleção Contos Mágicos (juvenil). Vamos a eles.





Você vai notar que falta, aí, o correspondente juvenil dos contos vikings por não ser livro de minha autoria, mas de Fernando Alves. Dele, só participei da coordenação editorial e o livro se chama "O navio fantasma".

Falei em 09 títulos e, assim, faltam dois. Livros que não fazem parte desta coleção, mas de um projeto antigo meu sobre os contos de fadas, depois de anos de estudo sobre o tema. São livros independentes, porém, fruto de uma mesma linha de estudos sobre arquétipos, mitos e símbolos que, muito embora façam parte dos contos mágicos tradicionais, falam sobre a natureza humana em qualquer época. Assim surgiu, primeiramente, Espelhos Partidos - um conto sem fadas, que conta uma história de amor de uma jovem por um homem que tem o dobro da sua idade. A problemática do livro não está na diferença de idades, mas sim, no fato de a protagonista, Flávia, colocar todas as suas expectativas na existência deste amor, ou melhor, deste homem, na sua vida. Flávia, como fazemos sempre que nos encantamos por alguém, passa a amar-se a partir do olhar deste outro, passa a gostar não apenas dele, mas da pessoa que ela se torna diante do olhar apaixonado dele. Perde seu amor próprio, acredita que o seu valor pessoal está fora, está naquilo que ele a faz sentir. Não vou contar a história, mas o fato é que quando este homem parte, Flávia perde o seu próprio eixo, sua referência, e passa a ter atitudes totalmente estranhas. Coisas que ela não faria (e nós não faríamos também) se não estivesse completamente entregue a esta paixão não correspondida. A capa e a diagramação deste livro são da minha filha, Thais. 


Na sequência, nasceu um outro projeto que adorei fazer e pretendo levar adiante com outros temas. Trata-se de um livro com duas capas ("vira-vira") que conta duas histórias independentes, mas que se complementam. Você pode ler uma delas apenas, mas a leitura das duas dará detalhes importantes. Chama-se O Ser / O Ter. Neste livro, queria falar um pouco com as crianças sobre consumismo, sobre a necessidade que às vezes sentimos de possuir tantas coisas, e da pouca importância que damos para aquilo que, de fato, somos ou pretendemos ser. Apesar da importância do tema, quis abordar isso de uma forma mais leve e lúdica para o pequeno leitor, criando dois personagens bem interessantes, o Ser - um extraterrestre - e o Ter - um rei bem ganancioso - que, a partir de diálogos, rimas, metáforas e muita magia, vão dando lá os seus recados. As ilustrações lindas da Tati Móes enriquecem o livro. A cena central "fecha" o livro é comum às duas histórias. Sou suspeitíssima, claro, mas este livro é muito, muito especial.