Já contei inúmeras vezes como foi que conheci Ruy Perotti. Eu precisava fazer meu trabalho final, na USP, sobre Sociologia da Comunicação, e decidi falar sobre o papel social das HQs. Um colega de classe, que trabalhava na Abril, sugeriu que eu conversasse com o Ruy. Ele estava lançando um nova nova revista, com um personagem carismático, que fazia uma crítica social muito interessante: o Satanésio. Pois o Ruy, um dos pioneiros da animação e da ilustração no Brasil, me recebeu e gravou uma longa entrevista que foi a base de um belo trabalho acadêmico. Depois disso, avaliou textos que eu escrevia (e, até então, guardava), encomendou histórias para revistas da Abril , e assim iniciei minha carreira literária. Esse viés literatura/sociologia explica muito sobre a temática de meus livros.
O fato é que, organizando papeis, me deparei com o cartão que posto agora e senti de volta a emoção de um dia distante (muito distante) em que, em meio à correspondência deixada na porta de casa, encontrei um envelope enviado pelo Ruy, com um cartão de Natal especialmente feito para mim. A mensagem vinha do Anjoca, guardião do Satanésio, diabo que, ingenuamente, tentava assustar os humanos, sem imaginar que as coisas aqui na Terra andavam bem mais quentes e crueis que no inferno. Suas maldades sempre viravam contra o feiticeiro, no caso, um diabo tão desmoralizado que precisava da proteção contante de um anjo da guarda.
Bateu saudade. De um tempo, de uma grande amizade, Ruy, Anjoca, Satanésio...
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